Caminhar.
(Texto lido na exposição coletiva onde apresentei a VideoArte Caminhar)
Para esta exposição coletiva e virtual, apresento a obra Caminhar. Videoarte com a presença de amigues querides: Suellen, Cláudio, Bruna e meu marido Bruno quando os gravei caminhando por ruas de São Paulo. Isto mesmo. Eles só estavam caminhando. Algo trivial, banal até. Mas isto é um privilégio. Quando foi a última vez que você saiu sem ter que desviar daquele olhar, daquela mão, daquela lâmpada, daquele fiu-fiu? Nas últimas semanas vimos a notícia da jovem Andressa que caiu da bicicleta após um homem em um carro passar a mão no corpo dela, no Paraná. Ela estava na rua andando de bicicleta.
No texto que escrevi para o catálogo da exposição, começo com o seguinte: "Caminhar é uma utopia. Pelo menos, para algumas corpas. Muitos falam, escrevem artigos, dissertações e teses sobre o espaço, sobre repensar os espaços ou novas possibilidades de explorá-lo, quando para algumas corpas não se conquistou nem o direito básico: o ato de caminhar, de transitar pelos espaços."
Parece uma bobagem, mas não é. Para algumas corpas, o simples ato de caminhar ainda é uma batalha a ser vencida. Para algumas corpas, a ida ao trabalho pode ser uma verdadeira prova de vida. Corpas Trans Mulheres Negras Bixas Sapas sabem sobre o que estou falando.
Meu marido e eu, sempre caminhamos de mãos dadas, transformamos o nosso caminhar em um gesto político, pois este simples gesto faz com que algumas pessoas se sintam no direito de nos xingar, de nos olhar atravessado e um dia até de nos violentar.
Não bastasse violentar nossa forma de ser e de amar, precisam também violentar o nosso caminhar.
Algumas corpas só querem caminhar.
Caminhar
Chris, The Red
São Paulo, 2021
Videoarte com Bruna Kury, Bruno Novadvorski, Cláudio Honorato e Suellen Gonçalves