Do fogo que em mim arde

Sim, eu trago o fogo,
o outro,
não aquele que te apraz.
Ele queima sim,
é chama voraz
que derrete o bivo de teu pincel
incendiando até ás cinzas
O desejo-desenho que fazes de mim.
Sim, eu trago o fogo,
o outro,
aquele que me faz,
e que molda a dura pena
de minha escrita.
é este o fogo,
o meu, o que me arde
e cunha a minha face
na letra desenho
do auto-retrato meu.

– Conceição Evaristo, no livro “Poemas da recordação e outros
movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

Este ensaio foi inspirado na poesia de Conceição Evaristo. Dentro das minhas buscas por escritoras brasileiras, em especial, as autoras negras, me deparo com a poetisa Conceição Evaristo, especificamente, a poesia Do Fogo Que Em Mim Arde - acima escrita - e me vejo completamente nela, o que me levou a transformar estas palavras em imagens e assim, surgiu este ensaio.

Estes elementos fotografados me representam. Eu sou alguém das artes, do design, do amor. Eu sou uma pessoa intensa, na vida, nas relações, na minha arte, na forma como trabalho e me relaciono com as pessoas. É a minha forma de trilhar meu caminho, de olhar pra trás e ter certeza que não vivi uma vida comum.

Como escreveu Henry David Thoreau:

"Fui à floresta porque queria viver livre.
Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida...
expurgar tudo o que não fosse vida;
e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido"

Este ensaio, este fogo, estes objetos a queimar e que, a princípio podem até retratar o fim, na realidade, representam o que em mim habita, é o meu combustível, é de onde origina o meu trabalho, desta ardência que alimenta o meu trabalho como designer, a minha fotografia/arte. Estes incendiados elementos - pincel, fotos, lápis, rosas - estão diretamente
relacionados com o meu ser, com o artista que sou, com a força que arde dentro de mim.